quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Entrevista: Andréa Gadelha, pediatra.

A médica Andréa Gadelha nos conta sobre o seu trabalho voluntário na ONG Donos do Amanhã.

Qual o papel do voluntário para a nossa sociedade hoje?

O papel do voluntário é ajudar. Então, se você não tem capacidade de ajudar, não tente ser voluntário. Ajudar em qualquer sentido. Então, você pode ser um professor voluntário, você pode ser um contador voluntário, você pode ser um assistente social voluntário, um médico voluntário, um enfermeiro voluntário, um psicólogo voluntário... Então, em qualquer profissão, ele pode se voltar a ajudar. Na (ONG) “Donos do Amanhã”, a gente tem vários e vários papéis: a gente tem um contador, Marcos, que não recebe pelo trabalho que ele faz dentro da ONG, mas ele está ajudando e ele não precisa lidar com o paciente em si – às vezes a pessoa tem um certo receio de lidar com a doença ou com o problema que a doença gera; mas, às vezes, você não precisa ser voluntário dessa forma. Com o que você tem, você já é um voluntário.

E tem muita gente que tem potencial para ser voluntário, mas não sabe, não é doutora?!

Tem que despertar isso aí! E é por isso que o intuito da entrevista hoje é despertar você que está em casa para ajudar a gente.

O que levou a senhora a cria a ONG “Donos do Amanhã”?

A “Donos do Amanhã” foi criada para ao tratamento da criança portadora do câncer. Como você sabe, eu sou oncologista infantil: eu trabalho com crianças portadoras do câncer. Quando essa criança chega ao Hospital, ela tem uma assistência hospitalar com internação, com antibióticos, quimioterapia, tem assistente social lá dentro, tem a enfermeira, o médico. Na hora que a gente dá alta para essa criança, o que acontece com ela? Vai com a receita na mão e pede socorro para quem? Essa criança carente portadora de câncer, à medida que ela sai do portão do Hospital ela é assistida pela ONG. Quando foi que a gente começou a pensar nisso? Desde quando eu comecei a trabalhar no Hospital Laureano, tem 11 anos, e a gente começava a atuar individualmente – pegava aquele que estava com um problema maior e tentava resolver, pedia ajuda aos vizinhos, aos nossos parentes, ninguém podia mais me ver! Era todo o tempo a gente pedindo ajuda a terceiros para ajudar as crianças. Daí veio a idéia: “vamos organizar isso! Como a gente vai organizar? Com uma instituição, uma Associação” – que é a Associação “Donos do Amanhã”.

Qual o papel dos voluntários nos trabalhos da ONG “Donos do Amanhã”?

Nós temos vários papéis. Um deles - e eu já falei para você - é do contador, por exemplo, e o papel dele é ajudar nas contas da ONG. A gente tem o assistente social, e o que ele faz? Ele dá apoio àquelas mães que são carentes a reunir documentos para que ela possa dar entrada nos direitos que ela tem perante um paciente portador de câncer. Se ele for sozinho: “Ó! Tem uma lista de documentos. Resolva!” Ele não vai sair do papel, ele não resolve! Se a gente não der esse apoio não vai sair do canto.

Tem o cozinheiro que, lá na ONG a gente faz o almoço para essas crianças: elas vão para o ambulatório serem atendidas; só que vêm de 8 horas de viagem, 10 horas de viagem numa ambulância, passa a noite toda naquele transporte... Noutro dia chegou uma criança para mim e me pediu: “Tia, eu não quero lanche, eu não quero bolo, eu quero feijão!” E aí!? Aí a gente instituiu o almoço, a gente dá o almoço lá na ONG para aquela criança que não está interna – o paciente que é interno tem direito ao almoço, e o que vai ao ambulatório? Vai comprar lanche!? A gente dá o almocinho.

Então, tem o cozinheiro, tem o servente, tem a secretária na nossa instituição. A gente tem “mil e um” papéis... Tem o professor, tem o psicólogo... Qualquer profissão pode ajudar.

E quem se interessar em ser um voluntário, o que precisa fazer?

Precisa ligar para a instituição – a gente tem o telefone 3242-2710, fala com a nossa secretária chamada Maria José e ela vai dar as diretrizes, o que a pessoa mais tem aptidão para fazer, o que ela precisa fazer para fazer parte da ONG. O que ela precisa ter? Primeiro, boa vontade: se ela tem boa vontade... E ter tempo disponível para aquilo, é o que a gente precisa. Por que tempo? Porque às vezes a pessoa quer ser voluntária, aí “Ah, hoje eu estou com dor de dente, não vou não”, “Amanhã eu tenho uma reunião não-sei-com-quem, então não vou”, e precisa ter o compromisso! Não é porque é voluntário, que não está recebendo por aquilo que não há compromisso: aquela criança vai estar esperando por você naquela hora determinada que você solicitou pra gente para participar dessa instituição. Então, naquele momento vai ter alguém dependendo de você, a gente precisa só ajustar os horários e mais nada. E precisa que as pessoas liguem para lá e a gente vai tentar encaixar você em alguma atividade.

O que a senhora diria a quem está lendo e ainda não é voluntário?

Ajudem! Deus deu tudo para vocês – deu família, dá um trabalho, dá saúde para você –, passe a bola pra frente. Ele tem milhares de cidadãos que estão ali do lado precisando da tua ajuda. Se Ele deu para você saúde, emprego, uma certa condição, é porque você tinha condições de ajudar alguém Dele, pequenininho que não chegou a isso! Esse pequenininho não teve a oportunidade de ter um emprego, não teve oportunidade de ter uma condição financeira maior para poder ter um plano de saúde, para poder conseguir se tratar melhor. Então, aquele pequenininho está da caridade de quem? Da caridade divina e Ele mandou você para poder ajudar. Ajude! Passe essa bola pra frente, não fique só pra você o seu bem-estar, não. Passe o que você tem para o outro. E isso é bom!

Pois é, doutora. E o trabalho voluntário também beneficia a quem se doa. Não é isso?

É uma troca. Nossa! E como é uma troca! Você receber um sorriso de uma criança – no nosso caso, a criança com câncer -, você volta para casa iluminado, você vê que não tem problema algum! Você volta renovado em poder estar ajudando alguém! Não é só o fato de ajudar; ele está te ajudando também: aquele sorrisinho, aquele pegar na mão, aquele abraçar você, traz todo o benefício que um exercício poderia estar trazendo... Você está me entendendo? Eu não quero dizer que a gente vai trocar o exercício por uma ajuda voluntária, mas é a mesma coisa, a mesma sensação – uma sensação de bem-estar, de saúde.

2 comentários:

  1. Gostei da entrevista, a Dra faz um ótimo trabalho e nos mostra que há várias formas de ajudar e os benefícios de fazer isso.

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  2. Sou madrinha de lá faz uns 03 anos, mas gostaria de saber como faço para obter a quantidade de crianças por sexo e faixa etária, pois pessoas conhecidas querem fazer uma doação no dia das crianças...Leila - lmota97@yahoo.com.br

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